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terça-feira, 30 de março de 2010

Resenha...

Acadêmicos: Jorge Luís, Tyffany.
Uma Crítica à Crítica da Arte:
O Papel da Crítica, História e Ensino da Arte

Sandra Makowiecky


Neste artigo a autora aborda a crítica da arte em suas múltiplas variantes, a qual é um assunto complexo, Makowiecky relata as opiniões a respeito de sua necessidade ou não, bem como o seu papel dentro do contexto artístico, a sua contribuição ou não para o desenvolvimento de uma consciência artística, uma vez que têm merecido e despertado as mais variadas formas de expressão.

Uma obra é eterna não porque impõe um sentido único a homens diferentes, mas porque ela sugere sentidos diferentes a um homem único, que fala sempre a mesma linguagem simbólica através de tempos múltiplos: a obra propõe e o homem dispõe. (Barthes apud Barbosa, 1993, p.21)

A autora cita Barbosa(1993), o qual acredita que talvez seja por isso que, diante daquelas obras que atravessaram os séculos e continuam a nos inquietar, destaca-se, na maioria das vezes, o modo aproximativo do artista a seu objeto, de tal forma que em toda a releitura que fazemos da obra encontramos uma outra possibilidade dentre muitas exploradas pela ficcionalidade da obra. Segundo o autor, não é que os artistas não soubessem o que queriam dizer: é que a execução, que deu como resultado as suas obras, mostra de modo renovado aquilo que eles queriam dizer.
Assim, é oportuno trazer à tona uma distinção entre poética, crítica da arte e teoria da arte, além de ver em que elas se diferem da estética. Qual é a tarefa da poética e da crítica? Para Pareyson (1998) a poética “regula a produção da arte”, e a crítica faz a avaliação desta produção. A obra requer poética e crítica, o fazer e o avaliar.
A crítica tem que emitir um valor a respeito da obra. O crítico e leitor avaliador, intérprete e juiz, deve fazer isso mediante critérios com base na própria obra, e não em critérios externos, relata Makowiecky. Já a teoria da arte define o que é especifico de cada manifestação artística, a qual adota algumas teorias específicas, estabelecendo limites, regras técnicas e fixas, bem como distinguindo linguagens. A Estética por sua vez, trabalha com todas as poéticas, utilizando-se também da crítica e teoria da arte como “modos de falar” sobre a arte, é somente especulativa, pois não emite juízo de valor. Nesse contexto a estética e a crítica, têm um caráter reflexivo sobre a arte, ajudando-nos a compreender por que a arte busca sempre a eterna novidade do mundo, diz a autora.

A crítica da arte, o ensino da arte, a história da arte


Um dos questionamentos pertinentes ao tratar de papéis na discussão em arte, é exatamente sobre qual seria o papel do crítico de arte, do arte-educador e do historiador de arte, cujos papéis se misturam, sendo que mesmo atuando de formas diferenciadas, existe muitos pontos em comum, conforme Makowiecky.


A crítica da arte, o crítico da arte


A crítica da arte dá-se na aplicação de critérios para julgar as produções literárias e as obras de arte, mostrando os códigos que se referem aos julgamentos de valor de uma obra de arte. Tais critérios abordam meios como estilo, escolas, influências, entre outros, termos gerais de descrição e classificação.
A tarefa do crítico, segundo a autora, é uma das mais difíceis e das mais ingratas, já que ao decidir sobre o valor das obras logo após tê-las visto e explicá-las ou torná-las mais acessíveis a outras opiniões, dificilmente captadas com precisão, nos mostra o porquê da utilização de critérios mais ou menos conscientes, que por suas diversidades indicam as suas influências.

A história da arte – o historiador da arte


Para Makowiecky, o historiador de arte deve ajustar-se sobre as circunstâncias em que os objetivos de seus estudos foram criados, examinando toda a informação existente quanto ao meio, condição, idade, autoria, destino e assim criar comparações com outras obras do mesmo período, por meio de textos que reflitam os padrões estéticos de seu país e época, a fim de chegar a uma apreciação mais “objetiva” de sua qualidade.
Makowiecky parte da premissa de que só é possível decifrar a representação das obras de arte através da articulação texto/conteúdo, ou seja, ela não abre mão de uma estratégia metodológica de analisar e estabelecer relações entre os períodos históricos, sociais, econômicos, bem como o discurso elaborado sobre a obra, além do que o artista expressa sobre ela.
Para falar em história da arte, conforme a autora, é necessário citar Ernst Gombrich, um dos mais conhecidos historiadores de arte que tentava aproximar a cultura das pessoas querendo facilitar o acesso à arte para todos. “Sua obra cristaliza a atitude de uma época desaparecida em que a arte era parte da mobília mental das pessoas civilizadas”. (Estenssoro, 2002, p. 22).
Gombrich se dedicou também em tratar de questões que tangenciavam a relação entre forma e conteúdo. Nas artes plásticas, a forma é a direção dada dentro da estrutura interna a partir da noção de espaço, a forma é primordial no estudo da arte, pois é o elemento básico essencial. O conteúdo refere-se a todo o conjunto de que estamos tratando.
A história da arte, assim como a sociologia da arte e a filosofia da arte, deve tratar de processos de criação, transformação, envolvendo as especificidades da matéria, os limites, as implicações, as características da linguagem, os significados, ou seja, a evolução espacial nas artes plásticas, diz a autora.



Relação entre crítica da arte e historia da arte


Makowiecky afirma que o critico de arte e o historiador de arte nem sempre mantiveram relações cordiais. O historiador de arte por muito tempo considerou o critico da arte como um “jornalista da arte”. O historiador ao descrever obras de arte, as técnicas, ao desvendar e esclarecer documentos, ao decidir sobre sua importância, esta fazendo uma escolha critica. Considera que não é possível falar sobre historia da arte como um fato isolado, claro que não é suficiente também descobrir apenas uma verdade e torna - lá como interpretação única de toda explicação, é inútil reduzi-las a uma única perspectiva, entendendo que nada é absoluto. Porem a verdade parcial confunde-se com o erro.
Para a autora o historiador tem a missão de desembrulhar o emaranhado de fatos, efeitos, causas determinantes, num todo coerente e significativo. Ela pergunta: Será que a critica serve apenas para estabelecer se uma determinada obra é ou não obra de arte? A história se ocupa apenas da arte do passado, e a critica da arte contemporânea? O fato é que segundo Argan, não se deve ter nenhuma distinção, no plano teórico, entre critica e historia da arte.
Makowiecky diz que a historia da arte teve seu inicio na pesquisa em torno do percurso de obras e da vida dos artistas, nestas pesquisas raramente foi encontrado relatos sobre comentários e apreciações sobre a obra ou sobre a personalidade do artista. No inicio a historia da arte era parte integrante ou auxiliar da historia política e religiosa. Com a formação de uma critica de arte e com a atividade dos primeiros “Connoisseur” (palavra de origem francesa, tem uso corrente em nossa língua, - perito, conhecedor, entendido, técnico, amante de arte não expressam bem a idéia do termo), o interesse passou a se deslocar para os componentes da cultura do artista. O Connoisseur, geralmente é o colecionador, o curador de museu, um perito que, identifica as obras de arte com respeito à origem, data e autoria, e as avalia no tocante a qualidade e estado. O conhecedor seria um empírico dotado de perspicácia e de experiência; o historiador seria um erudito.
Cita a autora que a história da arte distinguia-se por histórias e por particularidades que impunham uma adoção de procedimentos diferentes das metodologias historiográficas habituais. São documentos primeiros e fundamentais. As obras e arte eram os próprios fatos. As obras demonstravam a atualidade, através disso era possível elaborar, entender, interpretar os fatos, ou seja a obra de arte. Os historiadores ao escreverem sobre determinado assunto, estão colocando um julgamento que implica um pensamento conceitual, que estabelece relações entre conceitos. O critico ao apreciar uma obra de arte que está exposta como novidade, a situa na história, a julga. Neste sentido a crítica da arte se confunde a historia da arte.





Ensino da arte – o arte-educador


Makowiecky pergunta no texto: Como abordar o papel do arte-educador e de ensino de arte? A arte é um caminho que leva a uma visão objetiva das experiências humanas. A arte é uma subjetividade que se objetiva, entender isto é complexo, pois o ponto de partida pode ser subjetivo ou objetivo. O papel do arte-educador é permitir a subjetivação e auxiliar a objetiva-la, apresentando um conteúdo que deseja, dominando de maneira que a forma tenha significado e se construa discernível para o aluno.

Cada pessoa tem necessidades e sentimentos similares ou comuns a todos, mas dentro dessa similaridade todos tem a oportunidade de criar e desenvolver a própria personalidade.[...] é fundamental respeitar e incentivar a criação individual, cujo papel traz mudança. O fenômeno da mudança é um desafio da inteligência critica. [...] (Martins, 1985, p. 13-23).

Para a autora o papel do arte-educador e do ensino da arte de modo geral, tem como objetivo desenvolver a mente no sentido da autonomia e da independência do individuo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência artística e para o aprimoramento do individuo como ser.

Crítica à critica da arte – a crítica através dos tempos e seu papel hoje

Makowiecky afirma no texto que as obras artísticas sempre constituíram em objetos de juízos de valor e são consideradas patrimônio cultural. As épocas que precederam a nossa praticaram o julgamento de obras de arte sem muito embasamento. No século XX, os questionamentos aumentam e os historiadores da arte, os literatos, os críticos de arte confessam e postulam suas necessidades de precisar da natureza e o valor dos critérios que utilizam ao analisar uma obra de arte, é na verdade uma critica feita a considerações criticas a critica da arte.
As diversas tendências estéticas do inicio do século XX mostrou que a ruptura entre a tradição e as reações de um público hostil necessitou de mediadores, artistas ou escritores ou ainda amigos de artistas, segundo a autora.
O século XX praticamente presenciou a extinção do tipo de critica normalmente exercida por escritores, de vasta cultura humanista, com conhecimentos enciclopédicos e da vasta arte universal. Nas primeiras décadas deste século críticos e historiadores da arte se ocuparam de estilo, filosofia, das relações existentes entre as artes plásticas e as outras manifestações artísticas. Os críticos contemporâneos mostraram pouco interesse em tais relações, porque já aceitavam o fato de que as tradicionais distinções entre as várias artes estão desaparecendo e reconhecem a necessidade de um pensamento que leve em conta as novas definições da natureza e das limitações de um objeto artístico.
Makowiecky escreve que a crescente especialização em todos os setores do conhecimento humano também é perceptível na arte. Muitas de nossas idéias só são validadas para nós se um especialista disser que foi percebido é válido ou não, permitindo que eles determinem nossos valores. A verdade é que o mundo é aquilo que vemos e sentimos, contudo precisamos aprender a vê-lo. É necessário observar com mais atenção, decodificar mensagens; a arte serve para isso ela educa, ou melhor, fornece instrumentos para educar a sensibilidade, para que as pessoas possam participar mais efetivamente em suas decisões de suas vidas e no convívio com os outros. A realidade humana possui um mistério, a arte é uma forma de conhecimento que possibilita ao individuo despertar seus sentimentos, e permite que se abra mais ao mundo, que seja mais humano, que ele aprenda a ouvir mais, a sentir e a ver mais, que interprete mais, para compreender melhor o mundo. A arte oferece esta possibilidade de uma maneira extraordinária, já que emprega o numero maior de faculdades humanas, a arte é um agente ativo da vida. A crítica de arte, bem realizada, pode ser um ativador da experiência em arte, uma sociedade é educada nos moldes acreditados ideais, assim ela não seria necessária, pois participar do processo de criação leva a autonomia e a independência, levando ao conhecimento.
O reconhecimento do processo e do produto artístico é feito pela coletividade, portanto não se pode negar a critica da arte e impedir o julgamento. A arte é um meio de expressão que inicialmente acontece no nível do individuo, porem a validação da obra vai alem do individuo, se constrói no coletivo.
Existem muitos textos de estética, filosofia da arte, sociologia da arte etc., que são tentativas de resgatar o pensamento sobre arte. Para que o critico de arte compreenda a obra artística se faz necessário que ele tenha consciência dos princípios básicos no qual a atividade tenha sido construída isso se faz necessário em qualquer atividade humana, depois sim analisar o produto afirma a autora Makowiecky.
Vários artistas hoje assumem papel de serem críticos e fazem sua própria apresentação de catálogos na exposição. Não esquecendo a importância fundamental das cartas de Van Gogh ao irmão Theo, das teorias de Kandinsky, Paul Klee, Hélio Oiticica, Cézanne, entre outros. Estes matérias são indispensáveis para entender o posicionamento do artista no mundo e em sua obra.
Os artistas necessitam que suas obras sejam interpretadas e julgadas, principalmente pelos críticos de arte que são as pessoas mais capacitadas para essa apreciação. Os artistas sentem a necessidade de saber o que os outros vão pensar sobre sua obra, é ai que uma obra se torna obra de verdade quando passa a ser julgada e interpretada, passando por uma diversidade de opiniões, quando bem realizado o papel do critico de arte pode funcionar como um intermediário para aceitação do publico em relação à obra do artista proporcionando experiências de outros receptores. O papel da critica da arte é de mediador, reforça a idéia que: “a necessidade da critica depende da situação da crise da arte contemporânea, da sua dificuldade em se integrar no atual sistema cultural, da relação que a ligava funcionalmente as outras atividades sociais” ( Argan, p. 139).
São artistas hoje diz Paul Valéry, os que nos introduzem em nossa própria época e nos ajudam a viver hoje. Esse é um dos grandes valores da arte, da criação humana, incorporar ao nosso mundo. Os críticos de arte tem por função nivelar o caminho, porem sem autoridade, superior ou inferior, dirigindo-se os críticos de arte a todos como iguais.
A apreensão das obras, com muitos socialismos, psicologismos e historicismos e a tendência a supervalorização dos valores próprios da linguagem específica da arte, se estabelece uma tenção, que para Paul Valéry seria a chamada de “hesitação”, quando uma obra causa surpresa, choque, inquietação, encontramos um intervalo, na leitura deste intervalo o leitor, ao fugir de significados vulgares foge também de significados encontrados fora da obra. É neste intervalo que a obra se afirma, pois parte para a esfera do conhecimento que busca significados pela via de sua tradução através da própria obra.


SERÁ QUE A REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DAS ARTES E O PAPEL DA CRÍTICA DE ARTE É CAPAZ DE INCLUIR ESTA TENSA “HESITAÇÃO” TEÓRICA COM A CONSEQUENCIA RECUSA DOS MODELOS DE COMPREENÇÃO PACIFICADORES, MAS TAMBEM REDUTORES?

sexta-feira, 26 de março de 2010

"OSGÊMEOS" - Trabalho de Arte Contemporânea











"OSGÊMEOS" : Otávio e Gustavo Pandolfo"




"Sempre gostamos de ficar na rua, e a rua sempre teve uma coisa de malícia, de saber se virar".




OSGÊMEOS irmãos paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo - gêmeos idênticos -, 36 anos, que têm muros grafitados nos quatro cantos do planeta - EUA (Nova York, Los Angeles, São Francisco), Austrália, Alemanha, Portugal , Itália, Grécia, Espanha, China, Japão, Cuba, Chile e Argentina,os dois começaram a pintar grafites em 1987 no bairro em que cresceram, o Cambuci, e gradualmente tornaram-se uma das influências mais importantes na cena paulistana, ajudando a definir um estilo brasileiro de grafite.

Foi no bairro simples da Zona Sul de São Paulo que os gêmeos adolescentes, obcecados por desenhar - sempre juntos -, acompanharam a cena hip hop que despontava no fim dos anos 1980. Os traços finos e os temas particulares impregnaram seu grafite e acabaram afastando-os da identidade visual do movimento urbano. Os gêmeos criaram uma linguagem própria, facilmente identificável, e quase sempre dispensam a assinatura em seus trabalhos.


" Sempre gostamos de ficar na rua, e a rua sempre teve uma coisa de malícia, de saber se virar. O movimento hip hop era muito forte, e crescemos dançando break e fazendo grafite. Não tínhamos informação, mas vontade de ir para a rua pintar - conta Otávio, as calças repletas de tinta, enquanto a mulher, Nina, pinta uma tela no ateliê. - A gente já "causou" muito neste bairro, éramos o terror da rua.
- Não existia internet, revista de grafite, nem loja de produtos especializados. Você tinha que improvisar. Hoje, o contato é muito mais rápido, e isso também tem incentivado muita gente.



(O trabalho dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo está ligado a sua vivência em São Paulo, o grande melting pot cultural brasileiro. Centrada na construção de um imaginário próprio e peculiar, sua obra mescla elementos do folclore nacional com outros ligados ao desenvolvimento da street art. As telas seguem a tradição do retrato, com personagens centrais em padrões multicoloridos e envoltos numa aura surreal. As instalações oníricas incorporam carros, barcos e bonecos cinéticos gigantes à pintura de parede em grande escala.)
http://www.fortesvilaca.com.br/artista/osgemeos/


OSGÊMEOS: das ruas para a galeria
Por Adriana Paiva

Hip hop

Otávio e Gustavo começaram a grafitar no final dos anos 80 , no bairro do Cambuci (zona sul de São Paulo), onde nasceram. Eles militavam no movimento hip hop, quando este alcançava o auge no Brasil. Além de grafitar, a dupla percorria a cidade fazendo apresentações de break (modalidade de dança de rua que, juntamente com o rap e o próprio grafite, são marcas do movimento nascido nos EUA, na década de 70).

"A gente frequentava a Estação São Bento (do Metrô), que na época era o ´point´ dos caras que curtiam hip hop", conta Gustavo".

Os irmãos fazem questão de deixar claro, contudo, que, do final dos anos 80 para cá, apesar de continuarem a participar de eventos ligados ao hip hop, seu vínculo com o movimento mudou radicalmente.


"A gente conhece bastante a cultura, teve uma ligação forte. Então, de vez em quando, acontece um convite assim. Mas, hoje em dia, nosso trabalho não tem nada a ver mais com o hip hop".




"Grafite x pichação"

Um olhar um pouco mais atento permite concluir que o grafite feito hoje por Otávio e Gustavo mantém poucas semelhanças com aquele que ainda dá sinais de beber da fonte dos precursores : os "manos" afro-americanos que se criaram no Bronx. Essas diferenças entre estilos costumam vir à baila na sempre revigorada polêmica "grafite x pichação". Controvérsia na qual OSGÊMEOS preferem não jogar lenha. "A gente já não aguenta mais responder perguntas do tipo ´qual a diferença entre grafite e pichação?´ Isso não importa", dispara Gustavo.

O nível de elaboração e a riqueza de detalhes dos murais grafitados pelos gêmeos vêm, segundo eles, de uma obsessão pela prática do desenho. Eles contam que nunca fizeram um curso. O estudo, ainda hoje, acontece em casa. "A gente sempre estudou, desde pequeno: desenho, desenho, desenho".



Fino traço


Foi justamente essa aplicação que ajudou a forjar o estilo de OSGÊMEOS. Para eles, as principais características de seu trabalho vêm da maneira como o desenho é feito: "O jeito de a gente usar o spray, a linha, o contorno...", explica Gustavo. "A gente faz fininho -- isso também é estilo nosso".

A preocupação com detalhes fica evidente também na criação dos trajes de seus personagens."A estampa das roupas também é uma característica que a gente tem". Os personagens, mostrados em situações que ora parecem saídas de sonho, ora da dura realidade brasileira, são todos revestidos de um lirismo sem paralelo nesse tipo de manifestação artística.

"O que a gente quer, o jeito como filtra as informações, a gente coloca através dos personagens".



Quando o assunto se aprofunda na questão das influências artísticas, ambos preferem não citar nomes. "Acho que começam com a arte brasileira, a cultura popular brasileira", revela Otávio, "e vão até tudo o que a gente sonha, vê, sente, ouve".

E Volpi ?

A confusão sobre a suposta influência do artista no estilo de pintura de OSGÊMEOS tem mais de uma explicação. A primeira delas : as bandeirinhas, que se repetem no traje de vários dos personagens criados pelos imãos, segundo eles, teriam a mesma origem das que, a partir dos anos 50, tornaram-se frequentes na obra de Volpi : as festividades juninas (São João, Santo Antônio e São Pedro). Alfredo Volpi (nascido na Itália em 1896 e falecido em 1988), como OSGÊMEOS, morou quase toda a sua vida no Bairro do Cambuci. Gustavo conta que, quando crianças, ele e o irmão estiveram, em certa ocasião, no ateliê do artista. "Gostamos do trabalho dele , mas não virou influência", ressalta.

"A gente tem muito dessa coisa do brasileiro, do improviso, das coisas que o brasileiro faz para se virar. Tem muito dessas improvisações no nosso trabalho"
, argumenta Otávio, aludindo ao fato de que Volpi, além de auto-didata, se encarregava de fazer seus próprios pincéis e telas. Outra "coincidência": o artista, que veio da Itália ainda criança, iniciou-se na pintura como "decorador de paredes", ou seja, fazendo uso do mesmo tipo de suporte que, décadas mais tarde, notabilizaria OSGÊMEOS do Cambuci.


Filme para Nike

A visibilidade alcançada pelo trabalho da dupla, presente em muros ao redor do planeta, acabou rendendo-lhe convites como o da Nike. Otávio e Gustavo foram contratados para fazer a parte gráfica do documentário patrocinado e co-produzido (juntamente com a O2 Filmes) pela fabricante de materiais esportivos.

"Ginga - A Alma do Futebol Brasileiro" teve direção de Hank Levine, Marcelo Machado e Tocha Alves e produção-executiva a cargo do cineasta Fernando Meirelles. O lançamento no Brasil aconteceu em abril último. "Convidaram a gente por ter esse estilo bem brasileiro de pintar", conta Otávio. "Fizemos as vinhetinhas e decoramos todas as peças passadas no filme".

Fernando Meirelles gostou tanto da experiência de trabalhar com OSGÊMEOS, que os convidou para auxiliarem na produção das animações para a série televisiva da Rede Globo, Cidade dos Homens. "A gente fez a animação com ele. Foi um outro experimento", lembra Otávio . "A gente falou : vamos fazer uma brincadeira , vamos ver no que é que dá".

Ainda por conta do trabalho para a Nike, Otávio e Gustavo passaram quatro meses viajando por cidades de sete países. Eles contam que a proposta da turnê - batizada de Brasil - era fazer uma festa brasileira em cada local visitado. Em cada cidade, acontecia uma exposição com o trabalho dos grafiteiros e a exibição do filme Ginga. "Eles precisavam de artistas que representassem a nossa cultura através das artes plásticas ou das artes visuais", explica Gustavo.


Outros suportes

Foi entre uma viagem e outra que surgiu a proposta de desenhar um tênis especial para a marca. Os calçados, produzidos em edição limitada e lançados apenas nas cidades visitadas durante o tour organizado pela Nike, tiveram a parte traseira, a língua e a palmilha ilustradas pelos grafiteiros.

Sobre o convite que os traz agora a São Paulo quem fala é Gustavo: "Veio da Márcia e da Alessandra (Márcia Fortes e Alessandra RagazzoAloia, sócias-fundadoras da galeria). Elas já conheciam o nosso trabalho e o que a gente fez em Nova York também", continua, referindo-se à estréia deles no circuito formal de arte contemporânea, com uma grande exposição na Deitch Projects Gallery (que representa Keith Haring e Jean-Michel Basquiat, artistas que também alcançaram fama usando o grafite como linguagem). "Acho que acabou rolando assim: ´, como os caras são de São Paulo e nunca fizeram nada aqui? Vamos fazer, meu, tá na hora de fazer", acredita Otávio.

Embora a paixão pela atividade nas ruas não tenha arrefecido, os rapazes não escondem a empolgação com a nova empreitada. Sobretudo, segundo contam, pela miríade de possibilidades implicadas em mostrar seu trabalho em uma galeria, fazendo uso de um espaço que, nas palavras de Otávio, "pode ser transformado em 100%". "Você pode ter um trabalho tridimensional, pode ter luz, música, pode ter objeto, você pode fazer uma coisa se movimentar".


Grafite, só lá fora

OSGÊMEOS dizem que o que eles EXIBIRAM nas dependências da Fortes Vilaça não é grafite. "Aqui dentro é arte, arte contemporânea", esclarecem.



Trabalhos executados pelos OSGÊMIOS....


Em 22 de maio de 2008, executaram a pintura da fachada da Tate Modern, de Londres, para a exposição Street Art, juntamente com o grafiteiro brasileiro Nunca, o grupo Faile, de Nova York; JR, de Paris; Blu, da Itália; e Sixeart, de Barcelona.




Tate Modern, uma das mais importantes instituições de arte contemporânea do mundo.




















Detalhes mais aproximados da obra dos artistas grafiteiros...








Outros trabalhos dos "OSGÊMEOS"




Os Gêmeos, Nunca e Nina (mulher Otávio) pintam castelo em Glasgow, na Escócia.









A gigantesca cabeça amarela em que se transformou o prédio da galeria Fortes Vilaça, é um convite para que se ingresse no universo onírico dos grafiteiros, OSGÊMEOS...



O peixe que comia estrelas cadentes, 2006
Barco de madeira, escultura mecânica, spray, latex, papel de parede, lantejoula, resina acrílica, vidro, espelho, bicículo e alto-falantes.
Dimensões variáveis















O peixe que comia estrelas cadentes (detalhe), 2006
Barco de madeira, escultura mecânica, spray, latex, papel de parede, lantejoula, resina acrílica, vidro, espelho, bicículo e alto-falantes.
Dimensões variáveis



Grafitti na rua, São Paulo, Brasil




Chuva de Verão, 2008
Técnica mista sobre madeira
200 x 300 cm















Sem título, 2008
Técnica mista sobre madeira
200 x 230 cm





VEJA MAIS OBRAS dos "OSGÊMEOS" no SITE: http://www.fortesvilaca.com.br/




Projeto: Instalação de Stret Art e fotografia





UNIPLAC – UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE





DISCIPLINA ARTE CONTEMPORÂNEA - 7º de Artes Visuais/2010



PROF.: Vera Melin





ACADÊMICOS: Eliane, Jorge Luís, Tyffany.




TÍTULO: MÁSCARAS

2010





TEXTO: Observando obras e lendo sobre o trabalho dos “OSGÊMEOS”, é possível perceber claramente a força hibrida em suas obras com características muito próprias revelam sua vivência em São Paulo, e traduzem sua brasilidade com folclore nacional, e outros trabalhos ligados ao desenvolvimento da street art. As obras têm características surreais, onde o colorido toma conta, em suas instalações oníricas incorporam carros, barcos e bonecos cinéticos gigantes à pintura de parede em grande escala, a pintura complementa o espaço da instalação. As arte contemporânea produzida pelos irmãos retrata cenas do cotidiano de uma forma critica social e política, o trabalho é feito em grandes dimensões e carregada de hibridismo de materiais e ou linguagens artísticas, rompendo diversas características de arte tradicional.

"Expressões como hibridismo, mestiçagem ou poética das passagens começaram a ser utilizadas na exposição Passages de l'Image, organizada em Paris, em 1990, por Raymond Bellour e outros, para referir-se à dissolução das fronteiras entre os suportes e as linguagens, bem como também à reciclagem dos materiais que circulam nos meios de comunicação. As imagens são compostas agora a partir de fontes as mais diversas: parte é fotografia ou cinema, parte é desenho, parte é vídeo, parte é texto produzido em geradores de caracteres e parte é modelo gerado em computador. Por sua vez, os sons são ora registros brutos ou processados, ora sínteses produzidas em computador e ora o resultado de um "sampleamento" (edição e metamorfose de amostras gravadas). Na série Connexio, de Diana Domingues, por exemplo, cada plano é um híbrido, constituído de figuras em migração permanente, onde já não se pode mais determinar a natureza de cada um de seus elementos constitutivos, tamanha é a mistura, a sobreposição, o empilhamento de procedimentos diversos, sejam eles antigos, sejam modernos, sofisticados ou elementares, tecnológicos ou artesanais.Segundo Ítalo Calvino, a multiplicidade exprime um modo de conhecimento do homem contemporâneo, onde o mundo é visto e representado como uma "rede de conexões", uma trama de relações de uma complexidade inextricável".
( Enciclopédia Itaú Cultural - Arte e tecnologia(hibridismo/hipermídia- conceito )




A artista intermídia Regina Silveira em entrevista “Entre perspectivas e projeções”, ao Itaú cultural diz que a "hibridização veio para ficar".


Para realizarmos nosso trabalho pretendemos fazer uma critica aos políticos, para isso nosso projeto será um projeto de instalação de stret art e fotografia, no qual pretendemos usar como suporte uma caixa de papel de tamanho gigante, onde ela será inteira grafitada por dentro com desenhos criados por nós, colagens de recortes de noticias e imagens de politicos, seguindo também características das obras dos “OSGÊMEOS” . Com a caixa toda grafitada como se fosse três grandes muros, usaremos uma armação de um guarda chuva com márcaras feitas de papel mache suspensas ( o quarda chuva ficará dentro da caixa bem ao centro), trabalhando também com o conceito de móbile, e arte cinética....




Desenho inicial do projeto.....
Móbile

Na década de 30, o escultor americano Alexandre Calder surpeendeu o mundo das Artes com suas esculturas batizadas por Marcel Duchamp de "Móbiles".


O móbile é uma escultura cinética. Seu conteúdo conceitual tem trasncendido magnificamente a própria Histótia da Arte, sua essência como engenho tem atravessado o tempo tornando-o uma peça que representa valores vigentes na história contemporânea, o móbile representa a vocação do homem em desafiar a lei da gravidade, os opostos, o intervalo e o repouso fazem da inércia um momento quando se quebra o equilíbrio.
O móbile resgata o lúdico, suscita o sorriso e a alegria, nos remete as diversas fases das nossas vidas, é uma poesia feita de matéria onde é impossível sermos indiferentes à sua beleza ou fugir da emoção que suscita sua magia.


Fazer móbile é uma permanente homenagem ao grande escultor Alexandre Calder (artista engenheiro) e seu inesgotável talento. Fazer móbiles é lembrar o assombro de Duchamp e a alegria de Miró.
(Manuel Corullon)


Arte Cinética

Segundo o dicionário, cinética é o ramo da física que trata da ação das forças na mudança de movimento dos corpos. A palavra tem origem grega, que significa móvel ou o que pode ser movido.
Foi pensando nisso e numa antiga preocupação nas artes visuais, a realização do movimento que artistas da década de 1950 levaram às últimas conseqüências essa discussão, exatamente quando aconteceu a exposição Le mouvement (O movimento), no ano de 1955, em Paris, com obras de artistas de diferentes gerações: Marcel Duchamp (1887-1968), Alexander Calder (1898-1976), Vasarely (1908), Jesus Raphael Soto (1923) Yaacov Agam (1928), Jean Tinguely (1925), Pol Bury (1922), entre outros.
A arte cinética busca romper com a condição estática da pintura e da escultura, apresentando a obra como um objeto móvel, que não apenas traduz ou representa o movimento, mas está em movimento.

O artista Alexander Calder, por exemplo, é muito conhecido por seus famosos móbiles, como o da imagem acima. Construídos com peças de metal pintadas e suspensas por fios de arame, os móbiles movem-se por mais suave que seja a corrente de ar - e o movimento independe da posição e do olhar do observador, produzindo efeitos mutáveis em função da luz. Ao observador cabe contemplar o movimento inscrito nas obras, "desenhos quadridimensionais", como disse Calder.






Alexander Calder, The Star, 1960.



Arte Cinética Brasileira


No Brasil, podemos citar, dentre outros artistas, as obras de Abraham Palatnik. Considerado um dos pioneiros da arte cinética, nasceu em 1928, em Natal (RN).
Pintor e desenhista, Palatnik mudou-se com a família, em 1932, para Israel, onde estudou, entre 1942 e 1945, na Escola Técnica Montefiori, em Tel-Aviv, especializando-se em motores de explosão. Também estudou arte nos ateliês de Haaron Avni e de Sternshus, e no Instituto Municipal de Arte de Tel-Aviv. Retornou ao Brasil em 1948, instalando-se no Rio de Janeiro, onde conviveu com os artistas Ivan Serpa e Renina Katz, e com o crítico de arte Mário Pedrosa.
O contato com os artistas e as discussões conceituais com Mário Pedrosa fez Palatnik romper com os critérios convencionais de composição. Ele abandonou, então, o pincel e a arte figurativa, iniciando relações mais livres entre cor e forma.
Por volta de 1949, iniciou estudos no campo da luz e do movimento, que resultaram no Aparelho cinecromático, exposto em 1951, na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, pelo qual recebeu menção honrosa do júri internacional.


Abraham Palatnik, Aparelho cinecromático


A partir de 1964, Palatnik desenvolveu os Objetos cinéticos, um desdobramento dos cinecromáticos, mostrando o mecanismo interno de funcionamento e suprimindo a projeção de luz. O rigor matemático é uma constante em sua obra, atuando como importante recurso de ordenação do espaço.



Abraham Palatnik, Comunicação cinética, 1967.