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terça-feira, 30 de março de 2010

Resenha...

Acadêmicos: Jorge Luís, Tyffany.
Uma Crítica à Crítica da Arte:
O Papel da Crítica, História e Ensino da Arte

Sandra Makowiecky


Neste artigo a autora aborda a crítica da arte em suas múltiplas variantes, a qual é um assunto complexo, Makowiecky relata as opiniões a respeito de sua necessidade ou não, bem como o seu papel dentro do contexto artístico, a sua contribuição ou não para o desenvolvimento de uma consciência artística, uma vez que têm merecido e despertado as mais variadas formas de expressão.

Uma obra é eterna não porque impõe um sentido único a homens diferentes, mas porque ela sugere sentidos diferentes a um homem único, que fala sempre a mesma linguagem simbólica através de tempos múltiplos: a obra propõe e o homem dispõe. (Barthes apud Barbosa, 1993, p.21)

A autora cita Barbosa(1993), o qual acredita que talvez seja por isso que, diante daquelas obras que atravessaram os séculos e continuam a nos inquietar, destaca-se, na maioria das vezes, o modo aproximativo do artista a seu objeto, de tal forma que em toda a releitura que fazemos da obra encontramos uma outra possibilidade dentre muitas exploradas pela ficcionalidade da obra. Segundo o autor, não é que os artistas não soubessem o que queriam dizer: é que a execução, que deu como resultado as suas obras, mostra de modo renovado aquilo que eles queriam dizer.
Assim, é oportuno trazer à tona uma distinção entre poética, crítica da arte e teoria da arte, além de ver em que elas se diferem da estética. Qual é a tarefa da poética e da crítica? Para Pareyson (1998) a poética “regula a produção da arte”, e a crítica faz a avaliação desta produção. A obra requer poética e crítica, o fazer e o avaliar.
A crítica tem que emitir um valor a respeito da obra. O crítico e leitor avaliador, intérprete e juiz, deve fazer isso mediante critérios com base na própria obra, e não em critérios externos, relata Makowiecky. Já a teoria da arte define o que é especifico de cada manifestação artística, a qual adota algumas teorias específicas, estabelecendo limites, regras técnicas e fixas, bem como distinguindo linguagens. A Estética por sua vez, trabalha com todas as poéticas, utilizando-se também da crítica e teoria da arte como “modos de falar” sobre a arte, é somente especulativa, pois não emite juízo de valor. Nesse contexto a estética e a crítica, têm um caráter reflexivo sobre a arte, ajudando-nos a compreender por que a arte busca sempre a eterna novidade do mundo, diz a autora.

A crítica da arte, o ensino da arte, a história da arte


Um dos questionamentos pertinentes ao tratar de papéis na discussão em arte, é exatamente sobre qual seria o papel do crítico de arte, do arte-educador e do historiador de arte, cujos papéis se misturam, sendo que mesmo atuando de formas diferenciadas, existe muitos pontos em comum, conforme Makowiecky.


A crítica da arte, o crítico da arte


A crítica da arte dá-se na aplicação de critérios para julgar as produções literárias e as obras de arte, mostrando os códigos que se referem aos julgamentos de valor de uma obra de arte. Tais critérios abordam meios como estilo, escolas, influências, entre outros, termos gerais de descrição e classificação.
A tarefa do crítico, segundo a autora, é uma das mais difíceis e das mais ingratas, já que ao decidir sobre o valor das obras logo após tê-las visto e explicá-las ou torná-las mais acessíveis a outras opiniões, dificilmente captadas com precisão, nos mostra o porquê da utilização de critérios mais ou menos conscientes, que por suas diversidades indicam as suas influências.

A história da arte – o historiador da arte


Para Makowiecky, o historiador de arte deve ajustar-se sobre as circunstâncias em que os objetivos de seus estudos foram criados, examinando toda a informação existente quanto ao meio, condição, idade, autoria, destino e assim criar comparações com outras obras do mesmo período, por meio de textos que reflitam os padrões estéticos de seu país e época, a fim de chegar a uma apreciação mais “objetiva” de sua qualidade.
Makowiecky parte da premissa de que só é possível decifrar a representação das obras de arte através da articulação texto/conteúdo, ou seja, ela não abre mão de uma estratégia metodológica de analisar e estabelecer relações entre os períodos históricos, sociais, econômicos, bem como o discurso elaborado sobre a obra, além do que o artista expressa sobre ela.
Para falar em história da arte, conforme a autora, é necessário citar Ernst Gombrich, um dos mais conhecidos historiadores de arte que tentava aproximar a cultura das pessoas querendo facilitar o acesso à arte para todos. “Sua obra cristaliza a atitude de uma época desaparecida em que a arte era parte da mobília mental das pessoas civilizadas”. (Estenssoro, 2002, p. 22).
Gombrich se dedicou também em tratar de questões que tangenciavam a relação entre forma e conteúdo. Nas artes plásticas, a forma é a direção dada dentro da estrutura interna a partir da noção de espaço, a forma é primordial no estudo da arte, pois é o elemento básico essencial. O conteúdo refere-se a todo o conjunto de que estamos tratando.
A história da arte, assim como a sociologia da arte e a filosofia da arte, deve tratar de processos de criação, transformação, envolvendo as especificidades da matéria, os limites, as implicações, as características da linguagem, os significados, ou seja, a evolução espacial nas artes plásticas, diz a autora.



Relação entre crítica da arte e historia da arte


Makowiecky afirma que o critico de arte e o historiador de arte nem sempre mantiveram relações cordiais. O historiador de arte por muito tempo considerou o critico da arte como um “jornalista da arte”. O historiador ao descrever obras de arte, as técnicas, ao desvendar e esclarecer documentos, ao decidir sobre sua importância, esta fazendo uma escolha critica. Considera que não é possível falar sobre historia da arte como um fato isolado, claro que não é suficiente também descobrir apenas uma verdade e torna - lá como interpretação única de toda explicação, é inútil reduzi-las a uma única perspectiva, entendendo que nada é absoluto. Porem a verdade parcial confunde-se com o erro.
Para a autora o historiador tem a missão de desembrulhar o emaranhado de fatos, efeitos, causas determinantes, num todo coerente e significativo. Ela pergunta: Será que a critica serve apenas para estabelecer se uma determinada obra é ou não obra de arte? A história se ocupa apenas da arte do passado, e a critica da arte contemporânea? O fato é que segundo Argan, não se deve ter nenhuma distinção, no plano teórico, entre critica e historia da arte.
Makowiecky diz que a historia da arte teve seu inicio na pesquisa em torno do percurso de obras e da vida dos artistas, nestas pesquisas raramente foi encontrado relatos sobre comentários e apreciações sobre a obra ou sobre a personalidade do artista. No inicio a historia da arte era parte integrante ou auxiliar da historia política e religiosa. Com a formação de uma critica de arte e com a atividade dos primeiros “Connoisseur” (palavra de origem francesa, tem uso corrente em nossa língua, - perito, conhecedor, entendido, técnico, amante de arte não expressam bem a idéia do termo), o interesse passou a se deslocar para os componentes da cultura do artista. O Connoisseur, geralmente é o colecionador, o curador de museu, um perito que, identifica as obras de arte com respeito à origem, data e autoria, e as avalia no tocante a qualidade e estado. O conhecedor seria um empírico dotado de perspicácia e de experiência; o historiador seria um erudito.
Cita a autora que a história da arte distinguia-se por histórias e por particularidades que impunham uma adoção de procedimentos diferentes das metodologias historiográficas habituais. São documentos primeiros e fundamentais. As obras e arte eram os próprios fatos. As obras demonstravam a atualidade, através disso era possível elaborar, entender, interpretar os fatos, ou seja a obra de arte. Os historiadores ao escreverem sobre determinado assunto, estão colocando um julgamento que implica um pensamento conceitual, que estabelece relações entre conceitos. O critico ao apreciar uma obra de arte que está exposta como novidade, a situa na história, a julga. Neste sentido a crítica da arte se confunde a historia da arte.





Ensino da arte – o arte-educador


Makowiecky pergunta no texto: Como abordar o papel do arte-educador e de ensino de arte? A arte é um caminho que leva a uma visão objetiva das experiências humanas. A arte é uma subjetividade que se objetiva, entender isto é complexo, pois o ponto de partida pode ser subjetivo ou objetivo. O papel do arte-educador é permitir a subjetivação e auxiliar a objetiva-la, apresentando um conteúdo que deseja, dominando de maneira que a forma tenha significado e se construa discernível para o aluno.

Cada pessoa tem necessidades e sentimentos similares ou comuns a todos, mas dentro dessa similaridade todos tem a oportunidade de criar e desenvolver a própria personalidade.[...] é fundamental respeitar e incentivar a criação individual, cujo papel traz mudança. O fenômeno da mudança é um desafio da inteligência critica. [...] (Martins, 1985, p. 13-23).

Para a autora o papel do arte-educador e do ensino da arte de modo geral, tem como objetivo desenvolver a mente no sentido da autonomia e da independência do individuo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência artística e para o aprimoramento do individuo como ser.

Crítica à critica da arte – a crítica através dos tempos e seu papel hoje

Makowiecky afirma no texto que as obras artísticas sempre constituíram em objetos de juízos de valor e são consideradas patrimônio cultural. As épocas que precederam a nossa praticaram o julgamento de obras de arte sem muito embasamento. No século XX, os questionamentos aumentam e os historiadores da arte, os literatos, os críticos de arte confessam e postulam suas necessidades de precisar da natureza e o valor dos critérios que utilizam ao analisar uma obra de arte, é na verdade uma critica feita a considerações criticas a critica da arte.
As diversas tendências estéticas do inicio do século XX mostrou que a ruptura entre a tradição e as reações de um público hostil necessitou de mediadores, artistas ou escritores ou ainda amigos de artistas, segundo a autora.
O século XX praticamente presenciou a extinção do tipo de critica normalmente exercida por escritores, de vasta cultura humanista, com conhecimentos enciclopédicos e da vasta arte universal. Nas primeiras décadas deste século críticos e historiadores da arte se ocuparam de estilo, filosofia, das relações existentes entre as artes plásticas e as outras manifestações artísticas. Os críticos contemporâneos mostraram pouco interesse em tais relações, porque já aceitavam o fato de que as tradicionais distinções entre as várias artes estão desaparecendo e reconhecem a necessidade de um pensamento que leve em conta as novas definições da natureza e das limitações de um objeto artístico.
Makowiecky escreve que a crescente especialização em todos os setores do conhecimento humano também é perceptível na arte. Muitas de nossas idéias só são validadas para nós se um especialista disser que foi percebido é válido ou não, permitindo que eles determinem nossos valores. A verdade é que o mundo é aquilo que vemos e sentimos, contudo precisamos aprender a vê-lo. É necessário observar com mais atenção, decodificar mensagens; a arte serve para isso ela educa, ou melhor, fornece instrumentos para educar a sensibilidade, para que as pessoas possam participar mais efetivamente em suas decisões de suas vidas e no convívio com os outros. A realidade humana possui um mistério, a arte é uma forma de conhecimento que possibilita ao individuo despertar seus sentimentos, e permite que se abra mais ao mundo, que seja mais humano, que ele aprenda a ouvir mais, a sentir e a ver mais, que interprete mais, para compreender melhor o mundo. A arte oferece esta possibilidade de uma maneira extraordinária, já que emprega o numero maior de faculdades humanas, a arte é um agente ativo da vida. A crítica de arte, bem realizada, pode ser um ativador da experiência em arte, uma sociedade é educada nos moldes acreditados ideais, assim ela não seria necessária, pois participar do processo de criação leva a autonomia e a independência, levando ao conhecimento.
O reconhecimento do processo e do produto artístico é feito pela coletividade, portanto não se pode negar a critica da arte e impedir o julgamento. A arte é um meio de expressão que inicialmente acontece no nível do individuo, porem a validação da obra vai alem do individuo, se constrói no coletivo.
Existem muitos textos de estética, filosofia da arte, sociologia da arte etc., que são tentativas de resgatar o pensamento sobre arte. Para que o critico de arte compreenda a obra artística se faz necessário que ele tenha consciência dos princípios básicos no qual a atividade tenha sido construída isso se faz necessário em qualquer atividade humana, depois sim analisar o produto afirma a autora Makowiecky.
Vários artistas hoje assumem papel de serem críticos e fazem sua própria apresentação de catálogos na exposição. Não esquecendo a importância fundamental das cartas de Van Gogh ao irmão Theo, das teorias de Kandinsky, Paul Klee, Hélio Oiticica, Cézanne, entre outros. Estes matérias são indispensáveis para entender o posicionamento do artista no mundo e em sua obra.
Os artistas necessitam que suas obras sejam interpretadas e julgadas, principalmente pelos críticos de arte que são as pessoas mais capacitadas para essa apreciação. Os artistas sentem a necessidade de saber o que os outros vão pensar sobre sua obra, é ai que uma obra se torna obra de verdade quando passa a ser julgada e interpretada, passando por uma diversidade de opiniões, quando bem realizado o papel do critico de arte pode funcionar como um intermediário para aceitação do publico em relação à obra do artista proporcionando experiências de outros receptores. O papel da critica da arte é de mediador, reforça a idéia que: “a necessidade da critica depende da situação da crise da arte contemporânea, da sua dificuldade em se integrar no atual sistema cultural, da relação que a ligava funcionalmente as outras atividades sociais” ( Argan, p. 139).
São artistas hoje diz Paul Valéry, os que nos introduzem em nossa própria época e nos ajudam a viver hoje. Esse é um dos grandes valores da arte, da criação humana, incorporar ao nosso mundo. Os críticos de arte tem por função nivelar o caminho, porem sem autoridade, superior ou inferior, dirigindo-se os críticos de arte a todos como iguais.
A apreensão das obras, com muitos socialismos, psicologismos e historicismos e a tendência a supervalorização dos valores próprios da linguagem específica da arte, se estabelece uma tenção, que para Paul Valéry seria a chamada de “hesitação”, quando uma obra causa surpresa, choque, inquietação, encontramos um intervalo, na leitura deste intervalo o leitor, ao fugir de significados vulgares foge também de significados encontrados fora da obra. É neste intervalo que a obra se afirma, pois parte para a esfera do conhecimento que busca significados pela via de sua tradução através da própria obra.


SERÁ QUE A REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DAS ARTES E O PAPEL DA CRÍTICA DE ARTE É CAPAZ DE INCLUIR ESTA TENSA “HESITAÇÃO” TEÓRICA COM A CONSEQUENCIA RECUSA DOS MODELOS DE COMPREENÇÃO PACIFICADORES, MAS TAMBEM REDUTORES?

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